Cincopes

on 29 abril 2024

PROSA - ARTE É REVOLUCIONÁRIA

Sempre me surpreende a capacidade dos gênios em antever o futuro.

Seja em viagens futuristas fantásticas, como 20.000 Léguas Submarinas, de Júlio Verne (1870); Teorias de controle e dominação na obra 1984, de George Orwell (1949); A ameaça da revolução das máquinas de Eu, Robô, de Isaac Asimov (1950); O avanço da tecnologia em 2001, Uma Odisséia no Espaço, de Arthur C. Clarke (1964); O futuro em colapso pela desigualdade e caos ambiental de A Parábola do Semeador, de Octavia Butler (1993); O temor com a economia da atenção em Graça Infinita, de David Foster Wallace (1996) e o chocante e, infelizmente, tão atual com o avanço da extrema-direita, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (1953).

Gênios e artistas tem a capacidade de ler a sociedade e desenhar um cenário futuro provável, imaginar comportamentos e fazer o que não conseguimos, ouvir nossos sentimentos desvendando para onde vai a humanidade.

Esse é o grande motivo pelo qual conservadores extremistas temem a arte, a educação, a ciência e a cultura. Elas podem prevenir o homem de hoje sobre seu eu futuro e resistir.

É maluquice? É coincidência?

Seria alienígena José Lutzemberger, ambientalista gaúcho que há 50 anos previu os problemas do clima e o desastre que poderia se tornar o mundo se o homem não começasse a se preocupar com o meio ambiente e a sustentabilidade? Óbvio que não!

Não vivemos num mundo preto e branco, sem conflitos e diferenças. A energia que nos criou nos deu o livre arbítrio para o diálogo, o poder das palavras para construir.

Arte e cultura incomodam negacionistas e provocam os otimistas pelo mesmo motivo, ampliar horizontes podem mobilizar a sociedade.

Enquanto o nazismo e o fascismo original usavam a ciência e a eliminação de diferentes em busca da eugenia e supremacia racial, a extrema-direita atual nega a ciência e usa a fé para corromper, aliciar, dominar e destruir a democracia.

Democracia dói, é conturbada, barulhenta e, democraticamente, esconde em seu meio aqueles que querem destruí-la por dentro. Apesar de tudo, pouco me importa essa dor, porque respirar liberdade leva meus pensamentos em direção aos meus sonhos, minhas utopias.

O mundo é plural, os humanos são complexos e nossa casa é uma só, a Terra. Quando alguém tem demais, outros têm de menos. Coletividade e cooperação salvarão o mundo e garantirão um planeta às futuras gerações ou seremos lembrados como a geração que teve o privilégio de poder lutar e optou por sujar as mãos de sangue e acabar com o mundo.

Nosso modo de vida não é sustentável. O individualismo, a desigualdade social e econômica, a frustração da juventude insegura, a pressão no trabalho e a competição por recursos naturais escondidas atrás de discursos religiosos e ideológicos fazem guerras que podem levar a civilização ao colapso.

Mesmo que doa ao me fazer pensar, quero mais filmes, mais livros, mais teatro, mais obras de arte, mais música, mais ciência, mais debates, mais arte.

Quero paz, mas não saio da trincheira, nunca perdi minha juventude revolucionária.