A tragédia que se transformou em catástrofe em todo o Estado do Rio Grande do Sul, chegou em quem só ouvia falar de cheias e alagamentos através dos lamentos distantes de empregados, colegas, parentes ou pelo noticiário. A classe média conheceu a dor dos alagamentos da pior maneira possível, vivendo o problema.
Todos reconhecem o poder das forças da natureza e que os rios não invadiram, apenas retomaram seu leito natural surrupiado pelo homem.
Sua indignação não é contra as
enchentes, mas com os alagamentos por problemas estruturais de responsabilidade do poder público
municipal. Faltou manutenção,
prevenção e mobilização.
Quem conhece a periferia de Porto
Alegre sabe que esse é um problema recorrente.
E nem precisa ir tão longe. Moro na zona
sul há décadas e a avenida Cavalhada em frente ao Zaffari Cavalhada inunda facilmente. O arroio Cavalhada,
que corta a região, não tem qualquer tipo de cuidado com a limpeza ou desassoreamento. Mesmo com reclamações e
manifestações, mandam uma equipe, dão uma limpadinha nos bueiros e tá feita a
foto pra redes.
Esse triste maio, que teima em
não terminar, marcará o compartilhamento
de doloridas lembranças entre as classe média e pobre porto-alegrense.
O infortúnio sofrido pela
população pode ser o ponto de partida para uma mudança no Paço Municipal, em Porto Alegre, graças à classe média.
A classe média vive de temores,
sem firmeza ideológica ou filosófica. Entende sua posição social pelo consumo e não pela renda e isso a faz
se comportar como se estivesse mais próxima dos ricos do que dos pobres, uma falsa impressão que alimenta preconceito econômico,
cultural e até racial. Ela está a cerca de R$
6 mil dos pobres e a alguns milhões
dos ricos.
Sente-se mais segura quando o
engenheiro vira motorista de aplicativo do que quando o filho da empregada vira engenheiro,
visão fomentada pelo mercado ao
transformar a terceirização via MEI
e trabalhadores de aplicativos em empreendedores.
Na crise, se une aos pobres e
elege a esquerda. Quando divide
aeroportos e universidades com pobres, se une aos ricos elegendo seus
representantes que a colocam de volta
junto aos pobres.
E assim, lá nave vá!
O cenário ainda é incerto e o pensamento conservador, preconceituoso e dogmático
ainda é muito forte em Porto Alegre, mas como as sequelas da tragédia, da negligência e imprevidência se estenderão até
a eleição, depois de quase 20 anos
nas mãos da turma de Melo e Cia, podemos ter uma mudança de ares na prefeitura de Porto Alegre.
Sebastião Melo marchava para uma vitória tranquila, mas as águas de maio
também inundaram seu caminho.
O problema da oposição é que falta um candidato (a) com penetração
popular, presença política, carisma e discurso envolvente que catalise essa insatisfação e sonho de
mudança.
Se a oposição não firmar o passo, Melo vai se reeleger não por discurso, mas por WO.
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