Cincopes

on 25 maio 2024

POLÍTICA - ARES DE MUDANÇA

A tragédia que se transformou em catástrofe em todo o Estado do Rio Grande do Sul, chegou em quem só ouvia falar de cheias e alagamentos através dos lamentos distantes de empregados, colegas, parentes ou pelo noticiário. A classe média conheceu a dor dos alagamentos da pior maneira possível, vivendo o problema.

Todos reconhecem o poder das forças da natureza e que os rios não invadiram, apenas retomaram seu leito natural surrupiado pelo homem.

Sua indignação não é contra as enchentes, mas com os alagamentos por problemas estruturais de responsabilidade do poder público municipal. Faltou manutenção, prevenção e mobilização.

Quem conhece a periferia de Porto Alegre sabe que esse é um problema recorrente.

E nem precisa ir tão longe. Moro na zona sul há décadas e a avenida Cavalhada em frente ao Zaffari Cavalhada inunda facilmente. O arroio Cavalhada, que corta a região, não tem qualquer tipo de cuidado com a limpeza ou desassoreamento. Mesmo com reclamações e manifestações, mandam uma equipe, dão uma limpadinha nos bueiros e tá feita a foto pra redes.

Esse triste maio, que teima em não terminar, marcará o compartilhamento de doloridas lembranças entre as classe média e pobre porto-alegrense.

O infortúnio sofrido pela população pode ser o ponto de partida para uma mudança no Paço Municipal, em Porto Alegre, graças à classe média.

A classe média vive de temores, sem firmeza ideológica ou filosófica. Entende sua posição social pelo consumo e não pela renda e isso a faz se comportar como se estivesse mais próxima dos ricos do que dos pobres, uma falsa impressão que alimenta preconceito econômico, cultural e até racial. Ela está a cerca de R$ 6 mil dos pobres e a alguns milhões dos ricos.

Sente-se mais segura quando o engenheiro vira motorista de aplicativo do que quando o filho da empregada vira engenheiro, visão fomentada pelo mercado ao transformar a terceirização via MEI e trabalhadores de aplicativos em empreendedores.

Na crise, se une aos pobres e elege a esquerda. Quando divide aeroportos e universidades com pobres, se une aos ricos elegendo seus representantes que a colocam de volta junto aos pobres.

E assim, lá nave vá!

O cenário ainda é incerto e o pensamento conservador, preconceituoso e dogmático ainda é muito forte em Porto Alegre, mas como as sequelas da tragédia, da negligência e imprevidência se estenderão até a eleição, depois de quase 20 anos nas mãos da turma de Melo e Cia, podemos ter uma mudança de ares na prefeitura de Porto Alegre.

Sebastião Melo marchava para uma vitória tranquila, mas as águas de maio também inundaram seu caminho.

O problema da oposição é que falta um candidato (a) com penetração popular, presença política, carisma e discurso envolvente que catalise essa insatisfação e sonho de mudança.

Se a oposição não firmar o passo, Melo vai se reeleger não por discurso, mas por WO.